quarta-feira, 30 de julho de 2014

Todo dia. Tudo igual.

Consegue se imaginar fazendo a algo 24 horas por dia, 7 dias por semana?
É isso que acontece quando se toma a decisão de ficar em casa, seja por vontade, seja por necessidade. Quando se toma a decisão de deixar pra trás profissão, salário, colegas.
Por um tempo tudo é meio cor de rosa. Mas isso passa.
Aos poucos a rotina vai cansando. Não tenho empregada, faxineira, ajudante. O serviço não acaba nunca.
Os amigos vão se distanciando - especialmente se sua convivência era prioritariamente por conta da profissão - e nesse caso você já não faz mais parte daquela vida. Alguns vão mesmo ignorar sua existência. Outros vão lembrar de vez em quando. E poucos, raríssimos mesmo, se lembrarão de você com certa frequência.
É claro que existe a parte boa nisso tudo. Os dias são de brincadeiras sem fim. Mas são também de fraldas, mamadeiras, comida, louça pra lavar, roupa pra lavar e passar, casa pra arrumar, xixi no sofá. E muito, muito barulho.
O mais interessante são os comentários, que geralmente vem de gente que você encontra só por acaso: "Coisa boa ficar em casa! Que folga! Só gastando o dinheiro do marido!" (e isso acaba me lembrando porque algumas pessoas DEVEM ficar fora de nossas vidas). 
É maravilhoso ver seu filho crescer assim, de pertinho. Ver que com pouco mais de dois anos essa pessoinha fala absurdamente bem, raramente fica doente, tem uma imaginação invejável. Sabe contar em português e, pra nossa surpresa, em inglês (até 8).
Mas vai chegando aquele momento da separação. Ele pede pra ir pra escola. Quer ter seus amiguinhos (e já os tem). E eu também preciso de um espaço só meu. E isso não é ruim, não é "pecado". É necessário.
Quando você passa muito tempo com sua própria companhia, passa a valorizar o tempo e o que faz da sua vida. Esse período de "reflexão forçada" te obriga a encarar quem você é e quão distante está de quem deseja ser.
Hoje, não é qualquer um ou qualquer coisa que me tira de casa, ou que me tira o sono. As portas da minha casa e, principalmente, do meu coração não são abertas com facilidade. Mas quem entra é recebido com chá, café e bolo quentinho.

sexta-feira, 25 de julho de 2014

Menina não bebe, não fuma e não faz pum


Aqui em casa certas coisas são meio "do avesso". Sempre fui mais "saidinha" que o marido. Eu bebo, ele não. Já fumei, ele não. Mas aqui todo mundo faz pum.
Quando engravidei a felicidade foi tanta! E, de verdade, nunca tive preferência por menino ou menina. Conseguia me imaginar nas duas situações. E veio um menino. Ele chegou um mês antes do previsto. Numa cesárea. Um cisco de gente. Quase não chorava, só dormia.
E antes mesmo desse pedacinho de gente engrenar na mamada, começou a enxurrada de roupinhas azuis e verdes, de brinquedos "de menino". E as expectativas. E foi nesse momento que comecei a colocar o pé no freio. Comecei a entender que não estou criando um menino ou uma menina. Estou criando uma pessoa! Uma pessoa que pode ser o que quiser.
E com isso, devagar, ando me libertando de algumas "algemas".
Hoje posso ser uma princesa, a Mulher Maravilha (como nesse exato momento), o Hulk, a Mamãe Coelha, o Homem de Ferro.
Sou quem eu quiser - ou o que a imaginação do meu filho pedir.
Esse menino que veio pra mudar tudo é o que chamam de "moleque", desses bem levados, que gosta de escalar, pular e fala pelos cotovelos. Mas desconfio que, se tivesse uma menina, seria exatamente assim.
E o mais importante: ele é feliz. Ele gosta de abraçar, beijar. E ele ri. Muito e alto. E é isso, e apenas isso, que desejo pra ele, que seja uma pessoa feliz. E que veja nos outros apenas pessoas, sem rótulos, sem pré-conceitos.
E eu continuo aprendendo. Deixei o cigarro pra lá há muitos anos. Mas continuo bebendo. E faço pum.

quinta-feira, 24 de julho de 2014

Será que cabe?

Será que cabe um amor, mudar de ares, um carro, uma casa? Será que cabe um novo emprego, um novo negócio, um curso, um filho? Será que cabe um sonho, um bichinho de estimação, aquela roupa, mais um bocado? Será que cabe aquela mesinha amarela, uma viagem, mais um livro?


Aproximadamente dois anos atrás tomei uma decisão radical: deixei pra trás 12 anos de profissão relativamente bem estabelecida, meu salário e, com isso, uma vida social bastante agitada. Tudo para me dedicar ao meu maior projeto: ser mãe. 

Tá, tudo bem, não foi bem assim. Não acho que seja necessário largar tudo pra criar um filho. As circunstâncias me levaram a isso. Mas o fato é que aconteceu. E esse "período sabático" me levou a várias questões. Me levou a questionar meus sonhos, minhas vontades e o espaço de cada coisa dentro da minha vida. E hoje, mais de dois anos depois, devagar, estou conseguindo me localizar e me reorganizar.


E percebi que cada coisa tem o seu lugar. E, acima de tudo, sua hora.