sexta-feira, 28 de novembro de 2014

É preciso ouvir

Criança é legal demais. Sempre nos surpreende. E não adianta subestimá-las. Entendem tudo. Do jeitinho delas, mas entendem.
Em setembro, cerca de um mês antes do Gabriel completar 3 anos, fizemos uma viagem. Não um passeio qualquer. Viajamos daqui para Portugal, na casa da minha mãe e do meu padrasto, para passar mais de 30 dias.
Fomos só nós dois – meu marido ficou aqui, trabalhando.
A situação é seguinte: tenho 33 anos. E essa foi a primeira vez que entrei num avião (teco-teco não conta, né?). E, é claro, a primeira vez que fiz uma viagem internacional.
Ou seja, não sabia o que me esperava e para deixar tudo mais tenso, faria tudo isso com meu filho de menos de 3 anos. Não tinha ideia do resultado daquilo.
Entramos na área de embarque, me vi ali, sozinha com o Gabriel, mala de mão, blusa, “au-au” (cachorrinho de pelúcia dele)... e ninguém para nos acudir se qualquer coisa acontecesse.
Assim que entramos ele começou a choramingar e soltou o temido “mamãe, preciso do meu papai!”. Aí pensei “danou-se! São 35 dias longe!”. Mas ele foi entendendo. Tinha tanta coisa acontecendo, tanta informação.
E, para minha surpresa, o Gabriel ficou quietinho, apenas observando e, é claro, questionando tudo.
Para ir da área de embarque para o avião, precisamos pegar um ônibus. E foi a primeira novidade para ele.
Quando viu o avião dava pulinhos. Achou tudo lindo. Entramos. Sinceramente, não sabia como ele reagiria na decolagem... e mais uma surpresa. Ele amou. Olhava pela janela, ria.
Foi uma experiência incrível. A partir daí comecei um processo de acreditar no meu filho, na capacidade de entendimento e adaptação dele.
Viajamos a noite toda. Ele dormiu praticamente as 9h30 de vôo. Enquanto o avião descia e passava pelas nuvens, ele se divertia. Achou tudo o máximo. Até que olhou pra mim e disse “mamãe... solta minha mão! Tá doendo!”. Pois é, né?
Chegamos em Lisboa. Passa pela triagem, pega bagagem. E ele ali, quietinho.
Saímos e quando viu os avós saiu correndo. A cena mais bonita que já vi. E deu pra ouvir o coro de “oooooouuuunnnn” das pessoas que estavam ali.
Os dias passados lá são um caso à parte. Uma experiência indescritível (mas que vou tentar descrever, num post específico).
Não foi fácil voltar. A não ser pela saudade imensa do marido.
E a volta não foi diferente. Gabriel dormiu, comeu, ficou ali, sentadinho, com fone no ouvido, assistindo desenho. Dormiu quando o avião começou a subir. Dormiu novamente quando começou a descer. Ficou sentadinho do meu lado enquanto pegava as malas.
E todos os meu pesadelos, meus medos foram em vão. Meu filho de quase três anos. Meu pequeno companheiro.
Esse tempo me deu outra perspectiva, me mostrou que posso confiar nele e, principalmente, que preciso ouvi-lo. Ele não é apenas uma “esponja” que está ali para aprender o que tenho a ensinar. Não sou dona, rainha da razão. Ele precisa se expressar e precisa ser ouvido.
Conheci meu filho. E hoje tudo ficou mais leve.