Criança é legal demais. Sempre nos surpreende. E não
adianta subestimá-las. Entendem tudo. Do jeitinho delas, mas entendem.
Em setembro, cerca de um mês antes do Gabriel completar 3
anos, fizemos uma viagem. Não um passeio qualquer. Viajamos daqui para
Portugal, na casa da minha mãe e do meu padrasto, para passar mais de 30 dias.
Fomos só nós dois – meu marido ficou aqui, trabalhando.
A situação é seguinte: tenho 33 anos. E essa foi a primeira
vez que entrei num avião (teco-teco não conta, né?). E, é claro, a primeira vez
que fiz uma viagem internacional.
Ou seja, não sabia o que me esperava e para deixar tudo mais
tenso, faria tudo isso com meu filho de menos de 3 anos. Não tinha ideia do
resultado daquilo.
Entramos na área de embarque, me vi ali, sozinha com o
Gabriel, mala de mão, blusa, “au-au” (cachorrinho de pelúcia dele)... e ninguém
para nos acudir se qualquer coisa acontecesse.
Assim que entramos ele começou a choramingar e soltou o
temido “mamãe, preciso do meu papai!”. Aí pensei “danou-se! São 35 dias longe!”.
Mas ele foi entendendo. Tinha tanta coisa acontecendo, tanta informação.
E, para minha surpresa, o Gabriel ficou quietinho, apenas
observando e, é claro, questionando tudo.
Para ir da área de embarque para o avião, precisamos pegar
um ônibus. E foi a primeira novidade para ele.
Quando viu o avião dava pulinhos. Achou tudo lindo.
Entramos. Sinceramente, não sabia como ele reagiria na decolagem... e mais uma
surpresa. Ele amou. Olhava pela janela, ria.
Foi uma experiência incrível. A partir daí comecei um
processo de acreditar no meu filho, na capacidade de entendimento e adaptação
dele.
Viajamos a noite toda. Ele dormiu praticamente as 9h30 de
vôo. Enquanto o avião descia e passava pelas nuvens, ele se divertia. Achou
tudo o máximo. Até que olhou pra mim e disse “mamãe... solta minha mão! Tá
doendo!”. Pois é, né?
Chegamos em Lisboa. Passa pela triagem, pega bagagem. E ele
ali, quietinho.
Saímos e quando viu os avós saiu correndo. A cena mais
bonita que já vi. E deu pra ouvir o coro de “oooooouuuunnnn” das pessoas que
estavam ali.
Os dias passados lá são um caso à parte. Uma experiência
indescritível (mas que vou tentar descrever, num post específico).
Não foi fácil voltar. A não ser pela saudade imensa do marido.
E a volta não foi diferente. Gabriel dormiu, comeu, ficou
ali, sentadinho, com fone no ouvido, assistindo desenho. Dormiu quando o avião
começou a subir. Dormiu novamente quando começou a descer. Ficou sentadinho do
meu lado enquanto pegava as malas.
E todos os meu pesadelos, meus medos foram em vão. Meu filho
de quase três anos. Meu pequeno companheiro.
Esse tempo me deu outra perspectiva, me mostrou que posso
confiar nele e, principalmente, que preciso ouvi-lo. Ele não é apenas uma “esponja”
que está ali para aprender o que tenho a ensinar. Não sou dona, rainha da
razão. Ele precisa se expressar e precisa ser ouvido.
Conheci meu filho. E hoje tudo ficou mais leve.